terça-feira, 19 de maio de 2020

E você vem



Existem dias em que o olho fechado é o mar profundo que fica tão calmo por cada palmo para baixo.
Você não é quem vai de barco me salvar, mas mergulha mais fundo ainda e me lembra de colocar o escafandro, assim podemos juntos observar como existe paz no infinito.

Existem dias em que o castanho do teu olho com tanto brilho me recorda daquele vento com folhas voando e brincando com minha memória. Mais que folha, você é galho, tronco e raiz para o que eu vivo.

Existem dias em que o tempo que foi é apenas um minuto do tempo que chega, refresca e deixa gosto na língua. Mesmo gosto ressecado. Você é doce, alegra o paladar em uma intensidade de doce rosa, meio marshmalow.

Já existiram dias em que não existia o dia, só duas horas na noite, após todo o dia da rotina. Era o que eu tinha para falar com você e duas horas , enquanto preparava o jantar, era o meu dia todo. Você era dia e noite em lembrança da sua voz.

Existem dias em que todos os sons na minha mente não conseguiam mais  dizer  palavras, tomavam formas maiores que eu. Você foi a voz que  me fazia sentir ser maior que tudo. Fui maior até que eu mesmo. Te ouvir foi sempre  guia para qualquer caminhada no vazio.

Existem noites em que o frio deixava o lábio tão ressecado, o brilho no  olho era levado pelo vento. Você  batia em meu peito e me levava para  sentir o calor da água salgada e o vento do mar.

Existem  noites em que o medo vem e bate na  porta. Você me chama para  a coberta e balde de pipocas com filme qualquer.

Existem tardes tão sem graça  que não se vale a pena olhar  à janela.  Você vem e me mostra o sol se escondendo e faz poesia com seu sorriso. Você vem e me mostra a lua grande nascendo como o brilho que tem na ponta do seu nariz.



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